No dia 18 de maio de 2025, estudantes do 7º período do curso de Biologia da FHO que cursam a disciplina de Antropologia, ministrada pelo Prof. Me. Diogenes Rafael de Camargo, realizaram uma visita etnológica ao Quilombo Anastácia, espaço de aquilombamento localizado em Araras/SP.
Durante a visita, os alunos tiveram um momento de diálogo enriquecedor com o Patriarca da comunidade, um historiador e professor aposentado que participou da fundação do Quilombo Anastácia e que tem se dedicado à defesa das causas quilombolas até hoje. No encontro, os estudantes puderam compreender o que é um quilombo, um território de aquilombamento e uma Comunidade de Terreiro, além de entender a importância dessas comunidades e como elas se constituíram e se consolidaram ao longo de séculos de história de luta, cultura e resistência, que ainda permanecem acesas e vivas no local.
O encontro também contou com a participação de um estudante do último ano de Sociologia da UFSCar, que estava hospedado no local realizando uma pesquisa sobre comunidades quilombolas, o que trouxe ainda mais riqueza aos diálogos e reflexões do grupo.
Após a roda de conversa, os alunos fizeram um tour pelo quilombo, conversaram com outros quilombolas e visitantes, que vêm de diversas partes do Brasil e do mundo e são recebidos com muito respeito, delicadeza e gentileza - o que fez os alunos se sentirem acolhidos como se estivessem em casa. Aos visitantes que permanecem por mais tempo no local, é solicitado que contribuam com algum trabalho voluntário, como culinária, agricultura, limpeza ou bioconstrução, em um modelo semelhante ao praticado em ecovilas e comunidades ecossocialistas.
A visita também proporcionou ao grupo a oportunidade de conhecer a Matriarca, principal figura de liderança dentro da comunidade. Ao final, todos foram convidados a participar de uma refeição coletiva, um verdadeiro ''banquete'' com comidas típicas afro-brasileiras e receitas da culinária asiática, preparadas por visitantes de origem asiática que estavam visitando o local e naquele dia auxiliavam, voluntariamente, na cozinha.
Para o aluno João Augusto Paschoalin, a experiência foi marcante. ''É de extrema importância nos lembrarmos da história que a história não conta, principalmente em um país sem memória como o nosso. Creio que a palavra que define nossa visita é resistência''.
O aluno Gabriel Martins também destacou o impacto da vivência prática: ''A experiência no Quilombo Anastácia foi muito enriquecedora, pois nos permitiu vivenciar na prática conceitos discutidos em sala de aula, como cultura, resistência e pertencimento. Desde a recepção, ficou evidente a importância do acolhimento e da valorização do coletivo. Compreendi que ser quilombola vai além da descendência de africanos escravizados, é manter viva uma história de luta, identidade e relação com a terra. E o quanto é importante o papel da Antropologia ao valorizar e dar voz às comunidades tradicionais, entendendo seus modos de vida como legítimos e essenciais para a diversidade cultural do país''.
A aluna Isabelle Cesar Moro reforçou a importância do protagonismo feminino e dos saberes ancestrais: ''Foi enriquecedor descobrir o papel central das mulheres como guardiãs dos saberes, da história e da comunidade - um protagonismo reconhecido e celebrado. Uma força que se manifesta também no cuidado, na transmissão dos valores e na construção coletiva da vida''. Para ela, aprender sobre a relação da comunidade com as plantas também foi enriquecedor: ''A forma como os conhecimentos sobre ervas e remédios naturais são transmitidos e praticados, não apenas como recurso, mas como fonte de cura, conexão espiritual e sabedoria ancestral, revela uma profunda compreensão do corpo, da mente e da terra, um diálogo que acontece desde sempre entre as pessoas e o meio ambiente. (...) Ouvir e aprender com essas comunidades é fundamental para construir uma sociedade mais justa, plural e conectada com o que realmente importa: a vida em todas as suas dimensões''.
O aluno Leandro de Oliveira concluiu: ''Conhecer uma nova cultura pode ser extremamente agradável e acolhedor. Foi uma experiência que me fez entender que não existe um único jeito de viver ou de ver o mundo, mas sim uma multiplicidade de olhares e de existências. Eu gostaria de ir mais vezes lá!''.
Apesar de ser sinalizado no município de Araras, com placas em português e inglês, o Quilombo Anastácia ainda é pouco conhecido por parte da população local. ''Para a comunidade, abrir suas portas é também uma forma de promover educação etnoambiental e histórica, combater a ignorância e o preconceito, preservando e difundindo uma história que precisa ser contada. A boa intenção e o cuidado com os visitantes são tão evidentes que fomos colocados para nos sentar à mesa durante o almoço de domingo como membros da família'', contou o Prof. Diógenes. Para ele, a visita reforça a importância de abrir mentes e corações para o aprendizado: ''Visitar comunidades tradicionais, quando há boa intenção e abertura, será sempre uma possibilidade de aprendizado e uma oportunidade de somar, de agregar e de aprimorar o espírito.''
Av. Dr. Maximiliano Baruto, 500
Jd. Universitário | Araras - SP
CEP: 13607-339