''Você já reparou naquilo que descarta, todos os dias?.'' Foi com este questionamento e alguns dados alarmantes, que a advogada Daniela Leite provocou reflexões durante sua palestra, realizada durante o 14º Congresso Científico da FHO - "Desafios para Construção de um Mundo Sustentável".
Criadora do Comida Invisível, um hub de soluções que tem como objetivo educar e conscientizar as pessoas sobre o uso racional de recursos naturais e a redução do desperdício e da má distribuição de alimentos, Daniela levou todos a repensarem os padrões com o qual estamos acostumados a conviver. "Quando a gente começa a olhar para o lixo, primeiro ficamos preocupados com o alimento. Depois, começamos a perceber também o nosso desperdício de tempo, de espaço e de relações. E só então, passamos a ter uma nova atitude perante as coisas da vida. Porque desperdício é hábito, e hábito a gente muda com educação".
Há pouco mais de três anos, durante uma visita ao CEAGESP - maior entreposto da América Latina - para comprar frutas para fazer geleia, Daniela se deparou com uma grande quantidade de frutas próprias para o consumo, mas descartadas porque tinham perdido seu valor comercial. "Quando eu vi isso, acabou a minha noção do que é certo e errado, do que é próprio e impróprio, do que é bonito e é feio. Eu olhava para aquele mamão e enxergava rostos de pessoas, que poderiam ter essas frutas, legumes e verduras em suas casas, enquanto aquilo estava se perdendo e virando lixo", contou.
Incomodada com a situação, ela criou a empresa social Comida Invisível, certificada pela FAO/ONU com o selo Save Food, que atua por meio de soluções de monitoramento de perdas e certificações; políticas públicas; e de um aplicativo próprio, acessível pelo site, que aproxima quem tem comida sobrando com quem precisa dela, facilitando a doação de alimentos.
Segundo Daniela, hoje vivemos um cenário de "escassez na abundância". "Quando pensamos no desperdício de alimentos, especialmente vivendo em um país como o Brasil, falamos da escassez na abundância. Nós nunca passamos por desastres naturais, nunca tivemos terremoto, nunca passamos por guerras e o brasileiro é um ser cordato por natureza. A gente sempre quer fazer mais comida do que precisa, porque temos medo que falte na mesa. E por conta disso, nós acabamos desperdiçando muita coisa". Outro problema apontado é a padronização dos alimentos para venda no mercado em aspectos como tamanho, formato, peso e demais características, o que contribui com o aumento do desperdício. "Muitos alimentos acabam ficando no campo, porque estão fora do padrão. Se eles chegam no entreposto, também acabam ficando por lá. E se eles vão para a gondola de um supermercado então, não são colocados à venda".
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), anualmente cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida são jogados fora ou se perdem ao longo das cadeias produtivas de alimentos em todo o mundo. Enquanto isso, milhões de pessoas passam fome. Somos capazes de contribuir com a redução deste número se mudarmos nossos hábitos e atitudes e repensarmos nosso poder de transformação em sociedade.
Neste sentido, o Comida Invisível se apresenta como uma plataforma poderosa de conexão. Com ações relacionadas a alguns dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e mais de 5,3 milhões de seguidores através de perfis próprios e de embaixadores e apoiadores, ele possibilita que empresas, ONGs e pessoas se conectem, de uma maneira fácil e rápida, promovendo um consumo e descarte mais sustentável e valorizando os alimentos e a atuação em comunidade.
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